terça-feira, 22 de março de 2011

A feira

 É verão, dezembro, um sábado, muitas cores nas Laranjeiras, árvores cheias, carrinhos de bebê, música, diversos cheiros e sabores. Caminhamos juntos, puxo o carrinho em uma das mãos, na outra, está o pequeno que te dá a sua outra mão, enquanto você caminha olhando para a lindinha que anda sozinha.
Ao nos ver, João se abaixa para falar com o pequeno:
- E ai, o que o senhor vai querer hoje?
- Quero Lichia, um monte! Pai, pode?
- Claro que pode, o que mais você quer, cara?
- Banana também.
- João, você ouviu o cara, Lichia e banana pra todo mundo.
- Marquinho, separa ai.
Você pega um morango lindo, vermelho, grande e morde metade, uma gota vermelha fica no canto do seu lábio, te dou beijo pra sentir o gosto. Você sorri, se abaixa, dá a outra metade para ela e pergunta:
- E você, meu amor, quer alguma coisa?
- João, tem laranja? ela pergunta, antes de colocar o morango na boca.
- Tem sim, lindinha. Marquinho, descasca uma laranja e dá pra princesa, por favor?
Com maestria, Marquinho descasca a laranja, a divide no meio e dá um pedaço pra cada pequeno. Eles comem suas frutas em silêncio, observando uma senhora que passeia com seu cachorro.
- Mais alguma coisa, Fabinho?
- Me vê também manga, umas uvas bem doces, daquelas sem caroço, tangerina e não esquece os morangos da Luiza.
- Meu amor, você quer mais alguma coisa?
- Limão pra gente fazer a torta do Rodi com as crianças mais tarde. João, esse abacaxi tá docinho?
- Tá um mel, Luiza. Bem maduro.
- Então me dá dois pra gente fazer um suco hoje.
- Marquinho, separa tudo e põe no carrinho pro Fabinho, por favor?
- Pra já, “Jão”!
- Lindo, vou comprar as folhas na Dona Celina, me encontra lá. Você fica com as crianças, por favor?
- Fico. Vai lá e se prepara.
- Pro que?
- Pro que vem em seguida.
Você me olha sem entender muito bem, faz cara de interrogação e calada se vira para comprar as folhas.
- João,  quanto deu essa brincadeira?
- Deu R$60,00.
- Tá aqui.
- Valeu, Fabinho, obrigado. Grande abraço.
- Valeu, João, valeu, Marquinho, aquele abraço.
- Tchau, João, tchau, Marquinho - ela diz acenando.
- Pai, posso levar o carrinho? ele me pergunta animado.
- Pode. Vocês já agradeceram pela laranja?
- “Brigado”, Marquinho! dizem juntos.
- Terminaram de comer?
Os dois concordam com a cabeça e se olham.
- Joguem ali no lixo e vamos nessa.
Juntos caminham até a lata de lixo, jogam os bagaços fora e voltam de mãos dadas.
- Aí, meu camarada, você não vai falar comigo não? pergunta João.
O pequeno sai correndo em direção ao feirante, pula e bate em sua mão. Volta correndo, quase derruba outra mãe que passa com a sua filha. Pede desculpas ainda correndo, pega o carrinho e vai puxando feira adentro, cheio de si.
- Pai, o que é que vem em seguida? ela me pergunta com curiosidade.
- Uma surpresinha pra sua mãe e eu vou precisar da sua ajuda, topa?
Com o seu sorriso, ela concorda com a cabeça e segura minha mão.
- Mané, vem cá, aonde o senhor tá indo?
- Atrás da mamãe, ué. Ela foi pra lá disse ele apontando para o meio da feira, um mar de pessoas, barracas e carrinhos.
- Calma, antes você vai me ajudar com um lance muito importante, vem pra cá, a gente vai ali primeiro.
Todos de mãos dadas vamos em direção a barraca de flores, ele puxando o carrinho e ela olhando outra menina que passa segurando uma boneca. Chegando lá, temos um mundo de opções de cores, formatos, aromas e tamanhos.
- Bom dia, tudo bem? pergunta a jovem atrás da barraca.
- Tudo ótimo e com você?
- Tudo bem. Como posso ajuda-los?
- Essa gatinha aqui vai escolher flores pra mãe dela. Hoje, é um dia especial. Então, qual flor você acha que a sua mãe vai gostar mais, minha filha?
- Não sei. Deixa eu ver.
Ela solta minha mão, dá um passo a frente e observa todas aquelas flores lindas. Seus olhinhos vão da esquerda pra direita e voltam. Ela olha mais pra cima pra ver as que estão mais altas, fica na ponta dos pés como uma bailarina e desce.
- Acho que aquela ali! Parece com a sua, mas é branca.
- Pai, essa é lotus também? ele pergunta
- Não, meu filho, essas são margaridas, iguais aquelas que tem lá em Araras. Por favor, você pode me dar um ramo e tirar duas separadas pra mim?
- Claro, senhor. É só isso?
- Sim, sim. Quanto dá?
- R$12,00.
- Pai, posso pagar?
- Pode. Toma aqui e confere o troco pra mim, meu filho.
Ele pega o dinheiro, vai até a jovem, lhe entrega e aguarda o troco com as mãos ainda erguidas. A jovem lhe dá o troco sorrindo, ele agradece e olha para o conteúdo em suas mãos – uma nota e uma moeda. Permanece imóvel olhando para suas mãos alguns segundos, se vira pra mim e diz:
- Tá certo.
- Beleza, guarda pra gente comprar um sorvete depois.
A jovem entrega o ramo de flores para a pequena que o segura com as duas mãos e o cheira. Depois, se vira pra mim e entrega as duas margaridas que lhe pedi para separar.
- Meu amor, vem cá, deixa eu colocar essa flor no seu cabelo pra você ficar ainda mais linda.
Me abaixo para ficar da sua altura, ajeito seus cachinhos e coloco a flor apoiada em sua orelha. Fico em silêncio olhando para tão linda criança, fruto de um amor tão gostoso, tão amada, tão querida, tão nossa. Sorrio pra ela e ela sorri de volta pra mim.
- Tá linda, a mais linda do mundão! Vamos nessa que a sua mãe já deve ter comprado as folhas. Você quer continuar levando o carrinho?
- Não.
- Então dá a mão pra sua irmã e mostra o caminho pra gente. Sua mãe tá na D. Celina, você lembra onde é?
- Aham.
Os dois andam na minha frente de mãos, conversando algo que não consigo ouvir, enquanto puxo o carrinho. Deixo o pensamento me levar, vou pro passado. Andamos juntos nessa mesma rua, você e eu, fazendo o que hoje fazíamos acompanhados dos nossos  filhos. E pensar que nos desencontramos inúmeras vezes por entre aquelas pessoas durante anos. Coisas da vida, ainda não tava na hora.
Ao te ver de costas escolhendo as verduras, chamo os dois e lhes digo algo em seus ouvidos, eles ouvem atentamente o nosso plano. Em seguida, saem em disparada em sua direção, param e gritam juntos:
- Correio do amor pra mamãe!
As pessoas ao redor param para olhar aquela cena. Ao virar você vê os dois segurando o ramo de flores e sorri, segura a flores e eleva o olhar até encontrar os meus olhos. O sorriso, o nosso sorriso.
Ainda sorrindo te digo “Eu te amo” enquanto coloco a outra flor em seus cabelo.
- Você comprou flores pra sua mãe? Perguntou D. Celina.
- É, hoje é um dia especial, meu pai que disse.



Bom, aqui já é dia 23, meu amor.
Amo você.

Um comentário:

  1. :')
    Você está escrevendo cada dia melhor, me emocionando cada dia mais.
    Também te amo meu amor. Muito mesmo. E tudo isso que vc sonha, eu também quero pra gente.
    Feliz dia 23!
    (aqui ainda é...)

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